quarta-feira, 3 de junho de 2009

COPA E FOGUETÓRIO, por Wilson Nogueira

Ninguém em sã consciência seria contra a realização de jogos de uma copa mundial de futebol em casa. Decisões compartilhadas resultariam em obras com aproveitamento mais amplo e mais duradouro.
Os manauenses correm o risco de herdar da Copa de 2014 apenas o foguetório. Essa possibilidade deve-se, principalmente, à ausência da população na definição das prioridades apresentadas à Fifa na ampliação e melhoria dos serviços e equipamentos da cidade. É óbvio que os organizadores da competição exigiram prioridade à garantia de conforto e comodidade aos que se envolverão de modo direto com os jogos, como torcedores, turistas e jogadores.
A adequação da cidade às necessidades da Fifa custarão mais de R$ 6 bilhões. A maior parte desse dinheiro sairá dos cofres públicos. Nada mais justo do que a população decidir sobre como e onde aplicar esse dinheiro, ainda que condicionada a compatibilizar as melhorias da cidade ao bom desempenho das partidas. Decisões compartilhadas resultariam em obras com aproveitamento mais amplo e mais duradouro.
Ninguém em sã consciência seria contra a realização de jogos de uma copa mundial de futebol em casa. Afinal, futebol é o esporte mais popular dos brasileiros. Além disso, movimenta muito dinheiro, cria expectativa de emprego e renda. Não é de se estranhar que milhares de pessoas de 17 cidades torceram nas ruas, na frente dos aparelhos de TV, da tela do computador ou de ouvidos grudados no rádio para se ver incluídos nessa celebração de repercussão planetária. A comemoração da escolha de Manaus ocorreu no estacionamento o estádio Vivaldo Lima. Lá, os manauenses ouviram foguetório, longos discursos e dançaram noite adentro.
Espera-se que, passada a euforia, a população perceba que precisa assumir o papel de protagonista na preparação da cidade para a Copa. Quaisquer das obras – a reconstrução do estádio, a abertura de uma rua ou uma linha de trem de superfície – deveriam passar pela avaliação popular. O instrumento mais comum e mais eficaz de participação popular ainda é a audiência pública. Claro, essa ou outra medida similar só se concretizará por pressão social. Os donos e mentores dos kits das prováveis obras querem distância desse tipo de prática de cidadania.
É imprescindível, já há muito tempo, que as cidades se estruturem em padrões que reduzam os impactos ecológicos atuais e os previstos para o futuro bem próximo. Manaus não tem transporte coletivo urbano funcional, embora figure como um dos mais caros do País; também não possui espaços públicos seguros e decentes, como parques, praças e balneários. A Copa surge como oportunidade para mudança substancial no sistema urbano manauense. Dinheiro há com certa abundância, mas não esperem que os gestores dessa dinheirama criem ciclovias ou bibliotecas nos terminais de ônibus.
Infelizmente, o desfecho da Copa, para a maioria dos manauenses, é possível prever com larga margem de acerto. Só uma ampla mobilização cidadã poderia ajustar os interesses de um evento às necessidades permanentes de uma cidade mutilada pela negligência dos seus governantes. De outro modo, restarão o foguetório e alguns monumentos bizarros como lembranças de um passado glorioso. Outra vez!
Wilson Nogueira é Sociólogo, jornalista e escritor.

Um comentário:

luiz otavio Guimaraes disse...

Tenho a mesma opiniao!!

E necessario sim que a população exerça essas exigencia, mas que também colabore com um comportamento adequado. Ainda assistimos comportamentos bizarros em nossa cidade, o maior exemplo disso e o nosso transito. Infelizmente nao e o unico problema, ainda temos desorganização no centro da cidade, cheia de ambulantes que nao permitem um espaço ideal para o pedestre. As decisoes precisam deixar de ser politiqueiras!! Necessitamos de acao de todos!!