sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O desenvolvimento do Amazonas e a Teoria da Dependência

Por: Evandro Brandão* em: 08 de fevereiro de 2011

A Teoria da Dependência foi desenvolvida na década de 50 do século passado. Portanto, na mesma época da criação da Zona Franca de Manaus (ZFM), que foi criada em 1957. De acordo com a Teoria da Dependência, fortemente incentivada na época pelo Diretor da Comissão Econômica Para a América Latina das Nações Unidas (CEPAL), Raul Prebisch, o crescimento econômico dos países mais industrializados não se verificava com a mesma intensidade nos países mais pobres. De uma forma dinâmica, as economias mais desenvolvidas utilizavam-se das matérias-primas dos países periféricos para se desenvolverem (PEDROSA, 2006).

A partir dessa constatação, a Teoria da Dependência apontava alguns caminhos para que os países pobres iniciassem o crescimento: a. providenciar a substituição das importações dos produtos dos países mais industrializados; b. continuar a exportação de produtos primários; c. construir uma base industrial.

No entanto, “em junho de 1999, o jornalista, historiador e doutor em ciência política Jorge Caldeira publicou um livro por meio do qual buscou explicar o pífio desenvolvimento brasileiro no transcurso do século XIX. Ao longo daquele século, a economia brasileira, que era provavelmente a mais próspera de toda América, havia se transformado em uma economia que representava apenas uma décima parte do Produto Interno Bruto dos Estados Unidos” (PEDROSA, 2006, p. 5). 


Esse fraco desempenho não foi conseqüência de atividades e desempenho de economias externas e desenvolvidas, mas resultante de ações da elite econômica e governantes brasileiros, os quais deliberadamente optaram por uma política excludente dos interesses da maioria da população brasileira, enquanto criava vantagens para uma minoria desinteressada no progresso do País. Logo, explicar o baixo crescimento econômico e o subdesenvolvimento socioeconômico dos países pobres, a partir das relações econômicas com o mercado externo onde os países mais industrializados seriam os mandantes, não representava a totalidade das causas das diferenças entre o ritmo e a qualidade do crescimento econômico dos países pobres diante dos países mais industrializados, mais avançados economicamente.

Fiz questão de retomar as noções gerais do funcionamento da Teoria da Dependência, apesar da distância de mais de meio século da sua concepção, somente para relacionar com o que acontece no estado Amazonas há mais de quatro décadas. Inserido na região Amazônica, o nível mediano do desenvolvimento socioeconômico do Amazonas não pode ser creditado a fatores externos (nacionais e internacionais), bem como não se deve acreditar que o Polo Industrial de Manaus sozinho continue eternamente como o motor de produtividade, progresso e desenvolvimento do estado. Os princípios da Teoria da Dependência podem, mas não devem se constituir em parâmetros para explicar e compreender a dinâmica do desenvolvimento amazonense. É necessário encarar a realidade e identificar as verdadeiras variáveis que explicam o ritmo de desenvolvimento amazonense.

A visão capitalista clássica aponta as seguintes características de modernização econômica como fundamentais para o rompimento do ciclo da pobreza dos países: tecnologia, base industrial, estabilidade política, um sistema político e jurídico que garanta o império da lei, educação e valores capitalistas. Foi assim que se concebeu a Teoria da Modernização, segundo a qual, “para se modernizar e desenvolver, os países mais pobres necessitavam basicamente ser apoiados pelos países ricos por meio de tecnologia e de assessoria técnica, econômica e política, a fim de desenvolver uma cultura capitalista favorável ao crescimento econômico” (PEDROSA, 2006, p. 7).

Estamos no ano de 2011, século XXI, globalização econômica, aquecimento global, integração produtiva do MERCOSUL, macrozoneamento ecológico e econômico da Amazônia, o mundo interage e se integra cada vez mais. Além de tudo isso, é notório que o Brasil buscou e consolidou a sua industrialização, substituiu as suas importações e atualmente exporta produtos e bens que vão desde a soja até aeronaves altamente sofisticadas. Porém, o nível de desenvolvimento socioeconômico ainda deixa a desejar em relação aos países mais avançados economicamente. A vida diária da maioria dos brasileiros melhorou muito em relação ao que era nos anos 1960, mas o caminho para o desenvolvimento socioeconômico elevado ainda é muito longo; há muita a ser feito para atingir o nível de desenvolvimento socioeconômico que revele equidade na distribuição da riqueza do país e justiça social considerada adequada.

Estudar, ler, discutir e compreender melhor os conteúdos das teorias da dependência e da modernização revelam-se em ações e fatos de grande significado àqueles que pretendem contribuir mais ativamente com o desenvolvimento do estado do Amazonas, para não correr o risco de não assumirem-se responsabilidades e creditarem a falta de dinâmica e o baixo crescimento social e econômico do Amazonas a agentes externos, como se estivessem constantemente ressuscitando a Teoria da Dependência.

E para finalizar este texto, recorro a uma informação importante, também escrita por Pedrosa (2006, p. 9): “na verdade, a riqueza é criada pelo trabalho e pela iniciativa das pessoas, o que provoca um constante crescimento global da economia mundial. A prova desse crescimento é que a riqueza do mundo se expandiu cinco vezes nos últimos 50 anos do século XX”. 
Assim, pode-se entender que a inteligência, o trabalho e o empreendedorismo de cada um que habita o Amazonas têm importância significativa na produção de riqueza causadora de crescimento e posterior desenvolvimento do Amazonas que, por sua vez, também contribuirá para o desenvolvimento mundial. Esperar que somente o Governo Federal, através dos incentivos fiscais e dos seus programas e políticas públicas, indique o ritmo do desenvolvimento regulado pelo faturamento do Polo Industrial de Manaus, significa, além de ingenuidade, comodismo histórico.

REFERÊNCIAS

PEDROSA, Fernando Veloso Gomes. Teoria da Dependência: uma análise crítica. In ECEME. Revista Padeceme, Número 12 (segundo. quadrim. 2006) — Rio de Janeiro: Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, 2006. (p. 4 -10). (GS)
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Evandro Brandão Barbosa é graduado em Ciências Econômicas e Administração, especializado em Engenharia Econômica, pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap); Especializado em Informática e Educação pelo Centro Universitário do Norte (Uninorte), em Manaus; Mestre em Educação pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e professor do Centro Universitário Nilton Lins, também em Manaus, vinculado ao Departamento de Ciências Sociais Aplicadas, desde o ano de 2000.

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